Parto de Jaqueline Velloso, nascimento de LUCAS, dia de Santo Antonio 12 de junho 2013 Olinda -PE.
Sou Jaqueline Velloso, tenho 36
anos, mãe de Julia de 6 anos e de Lucas com 2 meses, casada com Marconi
Velloso, e para poder relatar o parto do nosso filho Lucas, temos antes que
contar um pouco sobre o parto de Júlia:
Nascida em 20 de julho de 2007,
num hospital particular do Recife, após uma gestação tranquila do ponto de
vista médico, entrei em trabalho de parto com 40 semanas e cinco dias, foram
horas de intervenções médicas, com bolsa rompida pelo médico; medicação com
ocitocina, onde tornavam as dores insuportáveis; cortes na vagina e por fim
minha filha veio ao mundo com fórceps. Graças a Deus ela não teve nenhum
problema clínico. As consequências foram emocionais e mais de 30 pontos que
levei devido a essas intervenções.
Quando engravidamos de Lucas,
tínhamos apenas uma certeza, que o seu nascimento não seria igual ao de Júlia,
não queríamos passar por um profissional frio e um local que nos traziam
traumas. Começamos uma luta na procura
um profissional diferente, humano, que não tivesse horários e que respeitasse o
tempo normal da mulher. Foi quando conhecemos através de uma amiga o CAIS DO PARTO, passamos a frequentar as
reuniões semanalmente, num ambiente aconchegante, com pessoas humanas,
sensíveis e amigas, começamos a entender e a curar todo o processo vivido no
primeiro parto. A cada reunião ministrada pela parteira Marcelly Carvalho, ia
se descontruindo essa ideia de que o parto é um sofrimento, e que a mulher é
incapaz de parir sem ajuda, nos sentíamos mais fortes emocionalmente e certos
de que encontramos os profissionais que tanto desejávamos.
Optamos em ter nosso filho em
casa e com a Equipe do Cais do Parto e posso assegurar que foi a coisa mais
acertada que fizemos na vida. Não se trata, apenas de ter um acompanhamento no
parto, o diferencial do Cais é cuidar, com carinho e dedicação, não só da mãe e
da criança, mas inclui toda família nesse processo, o pai é figura essencial
para a verdadeira humanização, os tratamentos oferecidos, como acupuntura,
leitura de áurea e as terapias naturais, dão o apoio psicológico e físico
necessários para construir o melhor modo de chegada daquela vida que irá mudar
as nossas vidas.
Com 40 semanas entrei em trabalho
de parto, mas precisamente às 3h da manhã, no dia 12 de junho de 2013. Ligamos
para a equipe do Cais, menos de 30 minutos estavam na nossa casa, após ser
examinada fui informada que minha dilatação estava quase completa, a partir daí
recebemos atenção e carinho por toda a equipe, com massagens e banhos mornos
que aliviavam as dores, o monitoramento do bebê era feito o tempo todo, enfim,
tivemos tudo que era preciso pra que o nascimento acontecesse da forma mais
natural possível.
E foi as 8:55 da manhã que Lucas
veio ao mundo, no seu tempo, na sua hora, sem intervenções médicas, com todo
cuidado e carinho, da forma que escolhemos, do jeito que pedimos, com todo o respeito.
E somos muito gratos a grande
ajuda dada pela Equipe do Cais do Parto. Muito obrigada a todos do Cais por
esse lindo trabalho realizado.
Auscultar do Bebê,Parteira Tradicional Marcely Carvalho |
Trabalho de parto Jaqueline junto com seu companheiro Marconi. |
Equipe do parto Marcely Carvalho Parteira, Marla Carvalho Doula e Terapeuta, Mariana Navarro Doula, Taciana Fotógrafa. |
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Parto Beth Chamié, companheiro Junior Veio relatam a chegada de Apolo, Olinda-PE.
Me chamo Elizabeth, tenho 28 anos, mãe de Apolo, 8 meses, nascido em 23/11/12 as 05:55h da manhã, como costumo dizer chegando da balada, assim como seus pais, por gostar e pelo trabalho. Meu relato é bem natural e simples, assim como muitas coisas que acontecem na minha vida. Bem Vamos lá, ao confirmar minha gravidez estava com 2 meses de gestação, pois bem, procurei algum grupo de apoio em Olinda na internet e logo me apareceu o cais do parto, adorei pois as reuniões aconteciam em Olinda, no sítio histórico, lugar que tenho muita afinidade. Chegado o dia do encontro, numa terça feira de maio de 2012, logo me deparei com 2 grávidas, e ficamos conversando, e já foi um bom início, pois ali senti que não estava sozinha, não era a única grávida no mundo....rsrsrsrs Ao final da roda com o "exame da barriga", um momento super especial, tive certeza que tinha feito a escolha certa, independente da maneira que meu filho iria nascer, normal ou não, em casa ou não, estava com pessoas que me entendiam, e como me entenderam...Ao passar dos meses o vínculo já era muito forte, faltar uma terça já era motivo pra mil questões novas, uma saudade de todos, e de querer se aquele menino já nasceu...
Eu tive uma ótima gestação, fisicamente ativa, estava ótima, fiz um curso no senac, o qual foi concluído, e pra não dizer que não tive nada, uma dor no nervo ciático, que Alice, doula e aprendiz de parteira do cais, resolveu logo na primeira consulta com suas agulhas da acupultura, mas quem disse que basta seu físico estar bem, somos feito de pele e alma, emoção pura, que durante a gravidez fica totalmente explicita, e aí foi que entrou o Cais do Parto/Luz pra sempre na minha vida. Pude entender o que era o "estar grávida" realmente, o que mesmo com uma consulta com o meu GINECO de 1h30m, não poderia saber. Ainda há muito o que se entender e trabalhar, mas foi uma libertação enorme pra mim, um processo de cura realmente. Fui acompanhada nos últimos 3 meses da gestação por Carla, psicóloga e Doula do Cais, que me colocou na diante da realidade e que também foi minha Doula, Obrigada Carlinha, por tudo, gratidão. Fiz leitura de aura e limpeza com Suely e Marla, e faço até hoje...
Marcely, parteira na tradição, sempre me perguntava como eu imaginava meu parto, e uma coisa que nunca me preocupou foi a dor, e realmente, não me lembro das dores, as tive, claro, mas foi totalmente suportável. E é aí que você descobre o quanto é capaz, você é capaz, eu sou capaz, hoje tenho essa convicção, o que antes não tinha por mim mesma e por ninguém me dizer. No meu relato, na roda do cais, Marcely, falou, "Beth me surpreendeu, não escutei essa menina dá um "pio", pensei que ela ia me dar trabalho, até pela questão com a mãe, por ser filha única".
Meu trabalho de parto começou as 8:40/50h da noite, com uma leve contração, como uma cólica menstrual e foi progredindo aos poucos, Marcely chegou em torno de 23h,23.30h, fez o toque que não senti nada, e ficou aguardando, me achei numa posição apoiada no móvel da tv da sala e do quarto, trabalhei a respiração, fiz os exercícios que ela me pedia, e assim foi, quando deu 4:39h da manhã minha bolsa estorou, aí o trabalho acelerou, com mais exercícios, respiração, sempre com apoio da equipe (Patrícia, aprendiz de doula, Marla, Júnior, Pai de Apolo, Marcely e Carla), as 5:55h Apolo nasceu de parto normal, não foi em casa pois fiquei com medo de conseguir fazer a força final, mas essa força veio de uma forma que eu não me lembro de fiz tanta força assim, porque é o momento dele, do bebê, então ele sai, o que tinha dito antes, agora eu sei que sou capaz.
Portanto, é o que sempre digo, como eu gostaria que todo mundo conhecesse o outro lado da gravidez, não apenas aquele de consultório, de 15 minutos de consulta, mas tudo que envolve uma gravidez, todos que estão ao seu redor, dos benefícios pro bebê e pra mãe, como foi importante, como Elas são importantes pra nós, como é diferente quando você tem o conhecimento do seu corpo. Termino esse breve relato dizendo sempre Gratidão, de verdade , do coração, que trabalho digno, belo e fortalecedor que o Cais do Parto exerce, vida longa a todos que coloboram com essa equipe maravilhosa, né cumadre?! Nós , Eu , Júnior e Apolo, somos uma família abençoada.
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Parto Carolina Ferretti, nascimento OTTO, Bahia.
“...Milagres
são reais, quando se crê.
Deve
haver fé, não desistir.
Milagre
é só crer, você vai ver.
Se você
crer, vai conseguir
Mas só
se você crer...”
trecho
da música “ When you believe” do musical PRÍNCIPE DO EGITO.
Antes:
Ser mãe era desejo
certo na minha vida.
Quando minha cunhada
ficou grávida, resolvi ajudá-la na busca por fraldas de pano na internet e
acabei encontrando um relato de parto de uma mulher que tinha tido um filho em
casa. E foi assim, sem querer, que descobri que parto também poderia ser em
casa. A descoberta foi uma surpresa, pois para mim, até então, só no hospital
podia-se ter filhos.
Existir essa
possibilidade de parir em casa foi realmente um alívio para mim e então tomei uma
decisão. Quando ficasse grávida, o parto seria em casa. Parir é normal, é
natural. Sempre foi assim, desde que o homem surgiu neste planeta.
Nessa época eu morava
em São Paulo e descobri um grupo que promove uma atitude positiva em relação à
maternidade e foi pra lá que fui quando me descobri grávida.
Comecei meu pré-natal
ali, assistido por uma parteira urbana, que foi muito clara comigo: “Se estiver
tudo certo com sua gravidez, você pode fazer seu pré-natal comigo, mas só
faremos o parto em casa se sua gravidez for de baixo risco”.
Com essa parteira
aprendi que a mulher tem o direito de escolher. Pode e deve mudar de escolha até
os 38 minutos do segundo tempo se assim tiver vontade.
No quinto mês de
gravidez mudei de cidade, voltei para Jundiaí, lugar que considero minha terra
natal. A parteira de São Paulo viria fazer o parto em casa, mas eu precisava
encontrar, em Jundiaí, uma doula e um médico para o plano B caso precisasse ir para
o hospital. Encontrei os dois. Thiana foi minha doula e parceira e me
incentivou com o parto natural e com a busca de uma experiência transformadora
em todos os sentidos (físico, mental, emocional e espiritual), e encontrei
também um médico que cuidou do meu pré-natal e respeitou todas as minhas
escolhas.
No meu sétimo mês de
gravidez meu marido e eu fomos a uma roda de gestantes, em Jundiaí, com a
presença da parteira tradicional Suely Carvalho e durante todo o tempo que
passei ali ouvindo suas histórias e conselhos a única coisa que passava pela minha
cabeça era: “Meu próximo filho nascerá com ela!”. Quando terminou pensei: “Por
que o próximo se este ainda nem nasceu?” Mudei. Sim, mudei de ideia neste dia e
nesta hora. Senti com esta mulher um acolhimento, uma segurança, uma firmeza,
uma tranquilidade que não tinha sentido com nenhum outro profissional. Para ela
eu não era um número, eu era Carolina Ferretti de Souza Sakamoto, uma futura
mãe. Com o total apoio do meu marido que também sentia a mesma conexão que eu em
relação à Suely, perguntamos se ela poderia ser a nossa parteira e ela respondeu:
“Estarei na Bahia ministrando um curso para aprendizes de parteira.” Ao
que meu marido prontamente disse: “Tudo bem, então nós vamos para Bahia também!”
Desse dia em diante,
até o nascimento, tive mais dois encontros com Suely e continuei minha rotina de
exames e consultas de pré-natal com o meu médico.
Fui totalmente
responsável.
Nos dois encontros
com Suely, comecei a trabalhar meus medos, ansiedades e inseguranças e ela me
disse uma frase inesquecível que faço questão de passar pra frente, pois muito
me ajudou: “Uma mulher determinada, ninguém segura.” E com isto martelando na
minha cabeça e no meu coração cheguei nesta praia no Sul da Bahia num sábado às 21hs, com 38
semanas de gestação.
Mas antes de
continuar quero fazer um parênteses para dizer que condições físicas cheguei nesta praia. Estava trabalhando muito nos últimos dias então levei um papo
sério com o serzinho que estava na minha barriga pedindo que tivesse paciência,
pois a semana que começava seria “puxada”, mas que quando chegássemos à Bahia
ele poderia fazer o que quisesse. No sábado cedo fomos para o aeroporto de
Congonhas em São Paulo, fizemos o check in e então fomos andar pelas lojas para
aguardar a hora do vôo. Aguardamos, aguardamos, aguardamos, aguardamos... até
que de repente o alto falante do aeroporto diz, ou melhor, implora: “Ultima
chamada para Salvador, Sr. Ricardo Sakamoto!!!!” Dá pra imaginar nossa cara de
desespero, os dois, ou melhor, os três correndo do portão 01 até o 12! Chegamos
esbaforidos dentro do avião com a porta fechando imediatamente nas nossas
costas. Thiana já estava acomodada na poltrona quase tendo um infarto achando
que ela ia e nós não!!! Foram duas horas de vôo, descemos, almoçamos, esperamos,
embarcamos de novo, chegamos em Ilhéus, entramos num 4x4, andamos duas horas,
paramos em Itacaré, jantamos, entramos de novo no 4x4, andamos por mais 40 minutos e finalmente chegamos.
Nos instalamos, tomamos um banho e capotamos.
Durante:
Ás nove horas da manhã do domingo, acordei e fui
ao banheiro e quando olho pra calcinha: fiozinhos de sangue. “Meu Deus, o
serzinho levou a sério meu pedido!!!!!”
Tomei café, conversei
com Thiana e logo apareceu Suely pra fazer um exame de toque e então sua voz
serena disse: “Temos um longo trabalho de parto pela frente.” Me passou alguns
exercícios, mandou que tomasse banho de mar e namorar. Antes de sair pediu para
que Marla, sua filha, fizesse uma leitura de aura e sinceramente só consigo
lembrar que ela dizia que eu estava com muito medo, mas que ficasse tranquila,
pois tudo estava bem e assim continuaria até o fim e me passou um exercício de
visualização pra me ajudar com a dispersar os pensamentos negativos. Fiz tudo,
menos namorar. Meu autocontrole não me permitiu curtir aquele momento com mais
leveza.
Por volta das sete da
noite Suely fez outro toque e eu estava com seis centimetros de dilatação. As
dores tinham aumentado de intensidade e eram só nas costas. Pedia pra que
Thiana me dissesse que eu estava indo bem e isso me ajudava muito, pois dentro
de mim a força da fé aumentava.
Por volta das nove da
noite fomos pra casa de nascimento onde fui recebida como uma rainha. Tinha
frutas, colchões, água, fogueira, dois músicos - Thales e Julio - Marcely,
outra filha de Suely, também parteira, Manu, outra doula, Marla, Thiana e meu
marido. Todos estavam ali prontos e disponíveis pra me ajudar no que fosse
preciso. Me senti em casa, completamente amparada e cuidada.
Confesso não lembrar exatamente
quantas vezes foram feitos toques, só me lembro de não serem muitos, e quantas
vezes escutamos o coração. Só me lembro que era MARAVILHOSO ouvir aquele
coração galopante e confiante. Meu bebê dentro de mim me transmita força e
coragem.
Eu sentia muita dor
nas costas e elas pareciam doer cada vez mais. Nessas horas procurava o olhar
de qualquer um que estivesse na minha frente, não falava uma palavra, mas
mergulhava na alma da pessoa buscando força e todos eles me davam.
Lembro de ter
chovido. Lembro de todas as vezes que meus olhos cruzavam com os de Suely eu
dizia: “Confia Suely, confia!” Lembro de um momento decisivo e marcante: Estava
com meu marido quando Marcely chegou pedindo pra conversar a sós comigo, olhou
profundamente nos meus olhos e pediu que perdoasse minha mãe. Lembro de olhar
pra ela e dizer: “Como se faz isso? Posso falar eu te amo mãe?” E ela confirmou
com a cabeça. Fui do volume mais baixo até o mais alto dizendo MÃE EU TE AMO.
Foi um bom tempo assim e a sensação que tinha era que o peso estava diminuindo.
Não fazia a menor ideia de o porquê estava perdoando minha mãe, mas me pus
disposta a perdoa-la. Marcely passou esse momento ao meu lado me encorajando e
me acolhendo.
Depois Marcely pediu
pra que em cada contração eu visualizasse um sol no meu canal vaginal pra
ajudar na dilatação. Eu fiz e mais uma vez fui do volume mais baixo ao mais
alto chamando o SOL. Lembro também de ficar de saco cheio, falar muitos
palavrões e dizer o nome da Suely durante as dilatações.
Suely me pediu muitas
vezes que eu deitasse e descansasse, mas era IMPOSSÍVEL, a dor era muito grande
e ininterrupta.
Quando começou a
amanhecer eu cada vez mais ficava de cócoras e quando o sol já raiava com
firmeza no céu fiquei mais uma vez nesta posição e então a bolsa estourou.
Num dos últimos
toques, talvez o último, Suely disse: “Agora vamos esperar o milagre.” E eu cantava:
“Milagres são reais, quando se crê. Deve
haver fé, não desistir. Milagre é só crer, você vai ver. Se você crer, vai
conseguir, mas só se você crer”. Cantei algumas vezes e senti mais um pouco
de dor e pedi pra parir, estava sentindo que a hora era aquela.
Meu marido sentou-se
numa cadeira, duas das meninas seguraram minhas pernas, Marcely ficou ao meu lado nas contrações e Suely estava na minha frente
esperando meu bebê. Antes de dar continuidade todos uniram-se em volta de mim
rezaram o Pai Nosso, a Ave Maria e a Suely agradeceu a presença da Sagrada
Família. Então Julio foi tocar o didjeridu (instrumento de sopro australiano) e
assim foi até que o bebê nascesse.
Durante as contrações lembro que Suely me
ensinou como deveria fazer a força e aos poucos fui fazendo corretamente.
Lembro que quando chegou o momento do anel de fogo, que é quando a cabeça da
criança passa pelo canal vaginal eu pensava: “Puta merda, isso não é um anel é
um cano inteiro!” Fiz força por muito tempo (não sei exatamente quanto) e
finalmente saiu a cabeça e num segundo saiu o corpo, meu bebê literalmente voou
para os braços da parteira às nove e quinze da manhã de segunda-feira.
Nesse momento
passaram-se milhões de coisas na minha cabeça, infinitos sentimentos no meu
coração e uma explosão de sensações no meu corpo. Vivi um dos milésimos de
segundo mais longos de toda minha vida. Acho que depois de tudo isso, segui flutuando
por muitas horas, talvez até dias, minha mente tentava compreender o que era
tudo aquilo que eu tinha vivido.
Assim que o bebê
nasceu Suely o recebeu e passou sua mensagem secreta no pequeno ouvido.
Por escolha, durante
a gravidez, não quisemos saber se era um menino ou uma menina. Então logo após
a mensagem Suely levantou o bebê e mostrou: “É um menino!” Peguei meu filho e o
apoiei na barriga, pois seu cordão era curto e não chegava ao meu peito e disse
ao meu marido: “É Otto, né?!” e assim ficou. Em seguida lembro-me de voltar a
posição de cócoras e conseguir aproximar mais Otto de meu rosto. A placenta
saiu depois de alguns minutos na posição de cócoras (não faço ideia se isso foi
real) e depois de algum tempo meu marido cortou o cordão e Marcely puxou uma
música linda que todos cantaram.
Deitei pra receber os
pontos e meu marido segurava nosso filho nos braços, fazia isso com uma
felicidade e um amor contagiantes. Cena linda e inesquecível que tenho na
memória.
Me limpei e fui
deitar com Otto no quarto. Ele mamava muito. Lembro-me de perceber como ele
fazia aquilo com determinação e então adormeci. Tempos depois acordei e ele
estava ali, em meus braços dormindo profundamente e completamente satisfeito.
Depois
Passamos quinze dias na Bahia e durante todo esse tempo fomos agraciados pelo carinho e atenção
de Suely, Thiana, as aprendizes de parteira..
Ali demos nossos primeiros passos como pais.
Passos importantes e decisivos para a nossa nova família.
Observações
Eu nunca imaginei o
parto como ele foi, na verdade nunca imaginei de nenhuma maneira, só me concentrava
em que tudo acontecesse com tranquilidade e harmonia. E assim foi.
Para mim o parto foi como passar pelo olho do
furacão e tenho certeza que aprenderei com este momento para o resto da minha
vida.
Hoje sei exatamente
porque tinha que perdoar minha mãe e quando desembarquei em Campinas e a vi nos
esperando tive a certeza que o meu amor por ela tinha aumentado.
Sou infinitamente
grata a Thiana, por me mostrar que existe outras possibilidades, aos músicos,
por encantar o nascimento do nosso filho Otto, a Marla, por ser tão
companheira, a Marcely, por ter uma força gigantesca e com muita generosidade
dividir isso comigo, a Suely, pelo profissionalismo, carinho, atenção e
maestria, ao meu marido, meu imperador a quem tenho muita gratidão por tudo que
vivemos e viveremos, ao Otto por ter nos escolhido para sermos seus pais e
todos os dias me ensinar que posso ser uma pessoa melhor e aos meus pais que me
concederam a vida.
Agradecida a Deus e
ao Espírito Santo por terem paciência comigo e por sempre me guiarem com
carinho.
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Marcela Molk | Nascimento de Natália

Marcela Molk | Nascimento de Natália
Eu tinha um mapa, que me mostrava um caminho a percorrer até chegar ao topo de uma montanha muito grande e íngreme. Comecei a seguir as indicações,
Apesar do mapa ser muito detalhado, o caminho parecia muito diferente, e eu não conseguia avistar a alta montanha que o mapa indicava. Quando eu pensava que já estava começando a subir, vinha então uma curva e o caminho descia novamente, me levando de volta ao ponto de partida. Tentei varias vezes seguir o mapa desde o inicio, dava voltas e voltas e não saia do lugar. Depois de tanto caminhar, comecei a ficar tensa, cansada, frustrada. Chorei, e tive medo de não achar o caminho certo. Precisava me tranquilizar, rever as indicações do mapa e decidi parar. Encontrei uma caverna. Nesta caverna havia uma fogueira que me aqueceu assim que entrei. O cheiro dentro dela era muito agradável, fresco. Tinha algum rio passando ali dentro, e o som das águas me tranquilizava. Entrei na escuridão, me aconcheguei e dormi. Quando acordei, me sentia renovada. Peguei o mapa, que era meu único guia e o joguei no fogo, já não precisava mais dele. Sai da caverna e continuava sem ver montanha nenhuma, mas na minha frente havia uma trilha que entrava numa mata fechada. Fui caminhando por essa trilha, que por vezes era difícil de caminhar, outras, muito fácil e agradável. Fui caminhando, mata adentro, cada vez mais densa, e sem me preocupar em me perder, só seguindo meus pés. Às vezes a trilha se perdia, mas eu continuava, para onde meu corpo queria me levar. Até que lá na frente vi um clarão, algo que indicava que estava próxima ao meu destino. Ao mesmo tempo que aquilo me dava animo para continuar, não conseguia acreditar que já estava tão perto. Continuei caminhando em direção aquela luz, o caminho foi ficando mais íngreme e difícil, e nessa hora, eu usava toda minha força para pegar um impulso e escalar com rapidez. E logo após ter subido um ponto difícil, parava para descansar, sem tirar os olhos do clarão. Mais alguns passos, mais alguns impulsos e cheguei ao meu destino: o topo de uma montanha altíssima, majestosa, que me permitia olhar além do que eu imaginava, uma paisagem incrível. Era a minha montanha, e subi-la foi muito mais simples do que eu pensava, era só me deixar levar...
No dia 30, Suely, Thiana e família chegaram na pousada. Almoçamos e acho que nesse mesmo dia a Suely me examinou. Fez o toque e eu estava com 6cm de dilatação. Isso já indicava que faltava pouco, mas eu não sentia nenhuma dor e as contrações que apareciam de vez em quando era quase imperceptíveis. No dia seguinte, 31 de dezembro, fez calor, e as horas passaram sem grandes novidades. A noite, depois da ceia de ano novo, comecei a sentir algumas pontadas, não eram contrações, eram umas fisgadas bem embaixo. A Suely achou uma boa ideia me examinar, e eu estava com 7 ou 8 cm de dilatação.
Acreditamos que o parto aconteceria naquela madrugada, do dia 1° de Janeiro, e eu comecei a me preparar para as horas de contrações dolorosas. Já tinha convocado minha tia Leone, minha prima Amanda e minha prima agregada Gabriela para ajudarem com as panelas de água, o tambor, o fogo. A Thiana ligou para a Carol, que também participaria do parto. Gonzalo acendeu o fogo e ficamos ali em volta aguardando as contrações. Mas elas estavam muito suaves, indolores e irregulares, longe de serem as contrações que eu esperava/queria...Fiquei caminhando em volta do fogo, passeando pra lá e pra cá. A Amanda tocando tambor, Tia Leone esquentando as águas e enchendo a banheira, Thiana e Carol fazendo massagens pra induzir as contrações, Suely conversando comigo. O tempo passou voando, e nada daquele trabalho de parto que eu tanto esperava, aquela dor que eu tanto me preparei... Já perto das 5:00 da manha, decidimos ir dormir.
Deitei na cama e me sentia muito elétrica, não conseguia fechar os olhos. Amanheceu, todo mundo foi tomar café, o dia começou, e eu com aquelas contrações fraquinhas, indolores e irregulares. Suely fez mais um toque, e acho que eu já estava com uns 8cm, e segundo ela, a cabeça do bebe estava bem em baixo... Aquilo era muito louco, estava quase com dilatação total, sem dor, sem nenhuma outra sensação e isso as vezes me dava uma sentimento de vulnerabilidade, insegurança...
Quando amanheceu, Suely pediu pra colocar um forró e mandou eu ficar rebolando com o Gonzalo, e isso estimularia o trabalho de parto... As contrações começaram a vir de 4 em 4 minutos, mas sem dor, muito leves... O único incomodo que eu tinha era nas pernas, um tipo de formigamento, que a Thiana e a Carol aliviavam com massagens. Fui ficando cansada, sentei na bola e as contrações se foram. Tentei dormir, descansar, mas não conseguia, seguia elétrica, com a adrenalina lá em cima e cada vez mais tensa. Ficava pensando que não ia conseguir ter as tais contrações e tinha muito medo de que a Suely me mandasse para o hospital. Mas sempre que ela vinha me examinar, a bolsa continuava perfeita e os batimentos do bebe ótimos! Ela me tranquilizava, explicando que não havia motivo para se preocupar. Era só eu deixar de pensar, parar de querer controlar a situação e permitir que meu corpo trabalhasse.
No fim da tarde, tentei ir dormir mais uma vez. Das 15:00 as 18:00 tive contrações irregulares, indolores, e pra mim, mais uma vez inofensivas...
Até que cheguei à conclusão que precisava dormir de verdade, antes de ficar contanto as contracoes.... Fui para o quarto, dentei na cama e fiquei rolando de um lado para o outro, sem conseguir relaxar, com a cabeça a mil por hora. Não, o parto não ia acontecer daquela maneira. Anoiteceu, pedi que o Gonzalo me fizesse uma massagem nas costas, que já doíam de tanta tensão. Perto das 23:00, o Gonzalo sugeriu que a Thiana e a Carol me fizessem uma massagem mais completa. Ele aproveitou para dizer a todo mundo (tia e primas) que estava de plantão que fossem dormir. A única que ficou na pousada foi minha mãe. Thiana me mandou entrar no chuveiro, me preparou um escalda pés com sal grosso e fiquei ali, sentada na bola, com os pés no balde. Gonzalo foi se deitar para tentar descansar também. Thiana e Carol prepararam o quarto ao lado, com aromatizante, luz de velas, musica relaxante. Deitei num colchão no chão e elas me massagearam, não sei por quanto tempo. Uma delicia, tão relaxante que acho que cochilei. Em algum momento senti uma contração forte, a mais forte que havia sentindo desde então. Senti o sono chegando, senti meus pensamentos lá longe. Percebi que a massagem tinha terminado, mas não percebi elas saindo do quarto. Alguns minutos depois, senti mais contrações doloridas, e notei que estavam regulares. Não consegui calcular o tempo entre elas, nem o tempo em que fiquei ali. Elas começaram a ficar mais e mais fortes, e eu fiquei “curtindo” aquela viagem, inspirando fundo, expirando com a boca aberta, como a Thiana tinha me ensinado nas aulas de yoga. Aproveitei para sonorizar a dor. Inspirava fundo, expirava dizendo “ahhhhhhhhhhh”. Me concentrava no som que saia e isso era muito agradável, tornando as dores muito suportáveis... Agora tinha certeza que a hora tinha chegado. Chamei o Gonzalo, que foi avisar a Suely e as meninas. Não consigo me lembrara exatamente o que acontecia enquanto eu fazia “ahhhhhh”, mas me lembro muito bem das cenas quando as dores davam uma pausa: Suely mandando Gonzalo ir esquentar as águas para a banheira; Thiana me massageando forte na região lombar; Carol me dando algo para tomar; Me lembro do gato observando tudo ao meu lado. Suely perguntando onde doía, me examinado, depois ela chamou o Gonzalo e disse pra ele desencanar das águas, não daria tempo de entrar na banheira, eu já ia ter vontade de fazer força.
-Fazer força? Daqui umas 3 horas, não? – perguntei.
-Não, já já – Suely respondeu.
Escutei o galo cantando e me assustei: “já amanheceu?”
-Não, o galo é que está cantando antes da hora - me esclareceu Thiana.
Prepararam o quarto, me levantei entre uma contração e outra e me sentei no colo do Gonzalo. Na minha frente, 3 anjos...
Por um lado, me sentia incrivelmente feliz, porque a hora tinha chegado. Por outro lado, não conseguia acreditar que já estávamos no fim, porque me preparava para o momento em que a dor seria insuportável, em que eu não fosse conseguir dar conta, o momento em que iria implorar por anestesia. Este momento nunca chegava, nunca chegou. As contrações eram fortes, mas me pareceram curtas e o intervalos entre elas, longas o suficiente para respirar e me preparar para a próxima. Então senti a pressão, a vontade de empurrar, fiz força. Gritei varias vezes, pra mim, um grito de bicho. A contração ia embora e eu dizia alguma coisa. Ela voltava e eu gritava com gosto.
A Suely disse que o bebe era cabeludo, coloquei a mão e senti algo muito estranho entre minhas pernas. Suely pediu um espelho, a bolsa ainda estava intacta e era uma imagem incrível. A contração deu uma pausa e pude dizer:
-Nossa, parece uma lichia...
-Sim, parece uma lichia... a bolsa vai estourar a qualquer momento – nos preparava Suely.
Quanto mais minha filha se aproximava, mais vontade eu tinha de empurrar. Elas começaram a cantar algo em espanhol. Me lembro de ter escutado aquela musica em algum lugar, tenho que perguntar ainda que canção era aquela. Agarrei no pescoço do Gonzalo, agarrei na perna do Gonzalo, agarrei na minha perna e gritei. Senti ela descendo. Mais uma vez, mais uma vez e a cabeça saiu. A próxima contração veio e empurrei por ultima vez, e o corpinho deslizou.
Olhei para baixo e a vi, nas mãos da Suely. Que vontade de gritar mais uma vez, de alegria... Gonzalo me dizia que eu tinha conseguido. Ficamos ali hipnotizados
Alguns instantes depois, ela veio para o meu colo e foi maravilhoso. E ela veio direto para o meu peito. Mamou forte. A placenta saiu, Gonzalo cortou o cordão. Ficamos ali curtindo nossa filha.
Ela é perfeita, forte, linda!
Parece que desde o momento que as contrações doloridas começaram até a hora do nascimento se passou menos de uma hora. Mas todo o processo de trabalho de parto foi longo, lento, cheio de inícios, pausas e grilos, muito diferente, mas muito melhor do que eu imaginei. Foi mágico! Foi um dos momentos mais intensos da minha vida.
Foram avisar a minha mãe, que também não conseguia relaxar nos últimos dias e estava de plantão. Ela chegou trazendo um leite com aveia e muitas lagrimas. E então fomos dormir na nossa cama. O Gonzalo trouxe o Nahuel, que quando deitou ao lado da irmã, abriu os olhos e lhe fez uma caricia na cabecinha: o bebe da barriga da mamãe tinha finalmente chegado.
Parteira: Suely Carvalho
Doula: Thiana Ferrarezi
Auxiliar: Carolina Ferretti
4 Comentários:
Que relatos belíssimos!!!! Essas pessoas são realamente iluminadas e iluminadoras! Gratidão pela oportunidade de conhecê-las...
Cléia
Que relatos belíssimos!!!! Essas pessoas são realmente iluminadas e iluminadoras! Gratidão pela oportunidade de conhecê-las...
Cléia
Que lindo! Fiquei muito emocionada com todo o relato!
são lindos os relatos, estou gravida e gostaria de saber quanto custa para ter um parto domiciliar com esta equipe maravilhosa que são vocês?
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